Polícia

Caso João Pedro: investigação parada e angústia da família

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|  Foto: Pedro Conforte
Pai de João Pedro durante reconstituição em outubro de 2020. Foto: Arquivo/ Pedro Conforte

Dia 18 de maio de 2020. Um comboio formado por mais de 50 policiais civis e federais adentrava o Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, com o apoio de blindados, helicópteros e lanchas. Poucas horas depois, uma família desesperada buscava informações sobre o paradeiro de um jovem, de 14 anos, que havia sido morto durante a incursão policial realizada em um dos principais polos criminosos do estado do Rio. Pouco menos de um ano após a morte de João Pedro, que chocou o país, a investigação sobre o autor do disparo que ceifou a vida do adolescente segue parada, sem nenhuma punição para os agentes que participaram daquela ação ou para criminosos integrantes da principal facção criminosa do Rio.

Onze meses após a morte do filho, o pai de João Pedro, Neilton Pinto, revelou que infelizmente perdeu a confiança no trabalho da polícia. Questionado sobre um possível recado para os órgãos responsáveis pela investigação da morte do adolescente, o trabalhador autônomo não titubeou.

"Infelizmente, estamos na mão deles. Eu acredito que a morte do meu filho não vai passar impune, mas já se passaram 11 meses e nada. Os responsáveis por tudo isso seguem nas ruas, recebendo dinheiro do Estado e tendo uma vida normal. E a minha família? Perdemos o João Pedro, perdemos uma parte de nós e estamos tendo que praticamente implorar por algo que deveria ser natural: a punição dos envolvidos".

Neilton Pinto, pai de João Pedro.

Após a reprodução simulada, realizada em outubro do ano passado, na casa em que o jovem foi atingido durante a operação, a Polícia Civil não ouviu mais nenhuma nova testemunha sobre o fato e se limita a dizer que a "Delegacia de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo (DHNISG) aguarda o resultado do laudo do Ministério Público para anexar ao inquérito". Vale ressaltar que a reprodução foi realizada pelos agentes da DH e por um profissional contratado pelo MP, em que cada instituição e órgão ficou encarregado de elaborar um laudo específico. Entretanto, nenhum dos dois documentos foi concluído até a manhã desta terça-feira (20). Como forma de exemplo, o laudo da reprodução simulada da morte do menino Henry Borel ficou pronto em 15 dias.

No dia do procedimento investigativo, o delegado titular da DHNISG, Bruno Cleuder, havia afirmado que não restava dúvidas sobre a autoria do disparo que matou o adolescente. Entretanto, quase seis meses após a reprodução simulada da morte de João Pedro, não houve nenhuma conclusão sobre a autoria do disparo que atingiu o adolescente. Os três policiais lotados na Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) - o alto escalão da Polícia Civil - seguem trabalhando normalmente e, inclusive, participaram de recentes operações policiais.

"Na minha concepção, o disparo que efetivamente vitimou João Pedro partiu da arma de um dos policiais", disse Bruno Cleuder, na época.

Questionado a respeito da demora na liberação do laudo da reprodução simulada, o Ministério Público afirmou que "as investigações são sigilosas e não será possível fornecer qualquer informação em proveito da própria elucidação dos fatos''.

Confrontos balísticos inconclusivos intrigam a família

Outro fator que intriga a família do jovem diz respeito aos exames de confronto balístico realizados com a arma dos policiais envolvidos na operação. O primeiro procedimento realizado pela Polícia Civil do Rio apresentou resultado inconclusivo. Diante da ineficiência, a Defensoria Pública do Rio, que representa a família de João Pedro, solicitou à promotoria do MP que pedisse uma repetição dos testes para identificar de qual arma partiu o disparo que matou o adolescente. Entretanto, dessa vez, o órgão responsável pelo confronto balístico foi a Polícia Civil de São Paulo.

Segundo a Defensoria Pública, a principal motivação para a solicitação de um novo confronto balístico é a falta de uma conclusão a respeito da autoria do disparo.

"A dor só aumenta a cada dia mais e não temos respostas. Outros casos como o do menino Henry ganharam um desfecho de forma rápida e nós seguimos nessa luta por quase um ano. Conforme o meu marido falou, quem sofre somos nós. Os policiais que atiraram naquela operação estão livres e nas ruas sem qualquer restrição. Como acreditar na justiça desse país?".

Professora Rafaela Mattos, mãe de João Pedro.

Questionada a respeito do resultado do confronto balístico, a Polícia Civil de São Paulo não respondeu.

Relembre o caso

João Pedro Mattos de Pinto, de 14 anos, foi morto durante operação conjunta entre as polícias Federal e Civil, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. O principal alvo dos policiais, o traficante Ricardo Severo, o Faustão, não foi localizado durante a ação conjunta e segue livre no Complexo do Salgueiro, onde desfila com armamentos e rege, ao lado de outras lideranças do Comando Vermelho, o tráfico de drogas do "quartel-general" da facção criminosa em São Gonçalo.

Os familiares da vítima afirmam que o paradeiro do menino ficou desconhecido por cerca de 17 horas até ser encontrado no Instituto Médico Legal (IML) de Tribobó, em São Gonçalo. Já a polícia afirmou que o socorro de João Pedro foi realizado para um heliporto na Lagoa, na Zona Sul do Rio, onde foi constatado o óbito.

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